Depoimento – Hiroyuki Minami

Em 2007 passei um mês no Japão, quando levei cinco técnicos da Prefeitura de São Bernardo do Campo para um curso. Havia sido desenvolvido um trabalho sobre plano diretor de despoluição da Bacia da Represa Billings, e para complementar a capacitação dos nossos técnicos, fomos ao Japão.
Passamos 15 dias em Tóquio, no alojamento da JICA. Fizemos trabalho de pesquisa, tivemos palestras, visitas a represas, lagos, sistema de tratamento de esgoto e água, e também conhecemos usinas de incineração de lixo. Essas atividades se deram em Tóquio e em outras cidades.

Me chamou a atenção a grande represa em Ibaraki. Aqui no Brasil temos leis de proteção aos mananciais, que restringe a instalação de indústrias e moradias nas proximidades, mas ninguém respeita essas leis. Lá não há esse tipo de lei, mas há exigências da própria prefeitura local, que recomenda que não se polua, ou seja, nada que polua pode ser instalado nas proximidades. Mas há muitas empresas instaladas, e já há contaminação do local. Visitamos Chiba e Kanagawa, onde vimos as instalações de tratamento de água.

Além do tratamento normal, há o processo de purificação de água. Também vimos as usinas de incineração de lixo, e o interessante é que as cinzas são jogadas no mar, situação em que avançam mar adentro, criando terra firme.

Os nossos técnicos ficaram perplexos com as usinas de Tóquio. A entrada de uma usina parece um museu, e tiramos os sapatos para entrar. Tudo é extremamente limpo, higienizado, bem cuidado.
Tivemos muitas palestras técnicas, tais como sobre o sistema de tratamento de esgoto de Tóquio, sobre dessalinização da água do mar e os custos disso tudo. O aprendizado foi muito interessante, e o mais impressionante para os técnicos foi a educação do povo japonês. As pessoas preservam os córregos e nascentes, evitando que sejam lançados detritos residenciais e industriais neles.
Achei interessante o que se faz em uma comunidade do interior, que tem umas 30 ou 40 residências.

Essa comunidade não está ligada ao sistema de tratamento municipal, mas tem um sistema próprio de fossa. O tratamento nesse sistema é feito com um produto que elimina bactérias. Em seguida, joga-se a água para o sistema natural, ou seja, para os córregos e rios, com eliminação quase total da sujeira. Note-se que o Rio Sumida, por exemplo, tem índice de poluição bem pequeno.
São Bernardo do Campo tem aproximadamente 70 km² e espelho d’água.

A nossa grande parceira é a Sabesp, que é concessionária de esgoto de São Bernardo do Campo. Há também uma parceria com a Cetesb para a utilização de um modelo matemático de medição da poluição.
Para São Bernardo do Campo essa experiência com a JICA foi muito proveitosa porque, quando foi iniciado o plano diretor, os peritos enviados do Japão ficaram cerca de 18 meses aqui desenvolvendo este projeto. Os peritos tinham um escritório na prefeitura. Assim, foram feitas, por exemplo, palestras e explicações para moradores sobre a importância da água e como ela pode ser economizada.

A palestra de um PhD do Japão, o Dr. Motohashi, chamou muito a atenção das pessoas, com um vídeo sobre a sua residência. Na lavagem dos pratos, primeiro é passado um papel para se retirar o óleo, que não vai para a água. Assim, foi feita uma educação ambiental: não jogar o óleo de cozinha na pia, mas recolhê-lo e fazer sabão.

Tudo isso teve muito resultado na região. Foram feitas palestras em escolas da periferia, e isso foi o início da educação ambiental, onde se tem aulas e se ensina a não jogar garrafas PET e plásticos em geral nas ruas, explicando que, com a chuva forte, esses objetos vão para os córregos e represas. Foi a primeira vez que ocorreu na história da JICA um convênio entre ela e uma prefeitura.

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